O empreendedor tem medo?

Recebi um telefonema de uma amiga que trabalha numa multinacional, fora de Portugal. Já trabalhou noutras grandes empresas, em Portugal e fora. Está contudo a procurar desenvolver um projeto pessoal e, às vezes, conversamos sobre o assunto.

A meio da conversa colocou-me uma pergunta muito interessante: “os empresários têm medo?”

Fez-me esta pergunta admitindo que tem sentido medo. Medo de executar as ideias (boas) que tem desenvolvido. Imagino que seja por um misto de medo de fracassar, medo de ter muito sucesso que a venha a forçar a novas decisões ou, quem sabe, apenas medo do desconhecido.

Pôs-me a pensar. Qual será o papel do medo nas nossas vidas e, em concreto, na vida de um empresário?

O medo é fundamental para sobrevivermos. Sobre isso, estaremos todos de acordo. Não ter medo é, portanto, apenas uma forma mais rápida de caminhar para a morte. O medo é necessário. O medo é importante. O medo é normal!

Admito que os empresário possam (talvez) ter uma aversão ao risco menor do que a média contudo, isso não significa que não tenham medo. Significará, quanto muito, que o conseguem gerir melhor. Significa talvez que, perante o medo, não paralisam mas avançam.

Mas, atenção, ser corajoso – atributo tipicamente associado aos empreendedores – é diferente de ser temerário. O temerário é imprudente. O corajoso não. O temerário não tem qualquer medo de perder. O corajoso não quer perder e não arrisca para além do razoável.

Um empresário razoável não é jogador de roleta russa. Poderá querer ganhar mas, nunca, desprezando as consequências do processo. Diria mesmo mais: um empresário razoável, e que tenha para si e para o seu projeto uma visão de longo prazo, mais do que ganhar quer, primeiro, assegurar que não perde.

Numa época em que parece fazer-se a apologia crescente do risco, convém não esquecer que o medo não é nenhum demónio. O medo é útil.

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