Lancei uma empresa e foi um flop mas, será que falhei?
Em 2011 lancei uma empresa. A minha 3ª empresa. A Sinemys. Era uma empresa que ambicionava dar passos lentos mas sólidos e, por isso, o nome de uma espécie extinta de tartaruga parecia fazer todo o sentido.
A vontade de montar esta empresa tinha surgido pelo facto de eu e o Luís Ramalho sentirmos que tínhamos competências complementares. Tínhamo-nos conhecido algum tempo antes no âmbito de trabalho conjunto na Bwizer – eu era cliente do Luís através do projecto Fisiozone – e, paulatinamente, fomos desenvolvendo uma relação de respeito mútuo.
Nas conversas que fomos tendo, mesmo antes de idealizarmos uma empresa em comum, percebemos que tínhamos ambos espírito empreendedor – o Luís dedicava-se a projectos online salvo erro desde 2004 e eu, tinha já duas empresas, a Bwizer e a Belpac.
Quando duas pessoas empreendedoras se juntam, nunca se sabe o que pode dali surgir mas é bem possível que algo surja! E assim foi: decidimos criar a Sinemys e ao projecto juntou-se o Manuel Paquete.
A ideia original centrava-se no desenvolvimento de projectos de comércio online. E assim, em 2011, mais uma empresa via a luz do dia!
Faço um bypass ao processo da Sinemys e salto para o desfecho: a meio de 2014 encerrávamos a empresa, com perdas de alguns milhares de euros.
Apesar de ser a terceira empresa que criava, hoje reconheço que demasiadas coisas deixavam antever este fim. Partilho as que me parecem mais relevantes:
1) sem um motor, nenhuma empresa anda, muito menos uma start-up: quando iniciámos a empresa o Luís estava na Escócia, em St Andrews, a estudar computer science. Por mais boa vontade que tivesse, não tinha o tempo suficiente para o projecto. Já eu, geria duas empresas e não podia dedicar-lhes menos tempo.
2) por mais forte que seja o motor, tem limitações: eu era o motor em duas empresas, duas empresas ainda juniores e bastante dependentes de mim. Repetir esse papel numa terceira, ao mesmo tempo, pura e simplesmente não foi possível.
3) as expectativas sobre o papel de cada sócio têm que ser claras: eu assumi um determinado para o Luís e o Luís assumiu outro para mim. O azar é que as expectativas de cada um não eram propriamente congruentes…
4) a ideia de negócio tem que ser sólida: sendo verdade que um produto não tem que estar totalmente pronto antes de ser colocado no mercado – veja-se a este propósito os insights de Eric Ries em “The Lean Startup” – tem contudo que haver uma ideia de negócio robusta e que guie as acções diárias. Ora, na Sinemys, flutuámos imensas vezes sobre qual deveria ser o papel da empresa e, de uma ideia inicial na área do comércio electrónico, acabámos no desenvolvimento web com uma paixão especial por Ruby on Rails. Pelo meio, passámos por várias outras estações! Está bem de ver que esta volatilidade estratégica é contra qualquer regra de bom senso.
5) if you have to fail, fail fast: bem antes do fim formal da empresa, o seu destino estava traçado. Tivéssemos sido mais pragmáticos na análise e na decisão, mais depressa teríamos resolvido o problema e menos tempo e menos dinheiro teríamos gasto.
6) não financie empresas que não funcionam (por mais bonito que seja o logo!): a Sinemys foi beneficiando de viver no ecossistema da Bwizer e da Belpac. Isso permitiu retirar-lhe alguma pressão financeira o que, no caso de se tratar de uma empresa com rentabilidade, teria sido óptimo. O problema é que não era. E o benefício de existir num ecossistema que não implica custos ou, pelo menos, custos elevados, leva a procrastinar na tomada das decisões que têm que ser tomadas.
Poderia continuar esta lista mas creio já ilustrar bem a magnitude e quantidade de erros cometidos.
Porém, todo este projecto, incluindo o encerramento da empresa, teve uma série de virtudes:
1) Fiquei muitíssimo mais desperto para a importância da tecnologia na dinâmica de qualquer negócio e isso levou a mudanças significativas na Bwizer.
2) Obrigou-me a estudar outros modelos de negócio, reforçando a minha agilidade mental para “pensar em negócio”.
3) Reforçou a minha percepção de valor do papel das redes sociais na estratégia comercial das empresas.
4) Levou ao reforço da estrutura societária da Belpac e da Bwizer, com a entrada de mais um sócio, o José Vidrago, com impactos muitíssimo positivos no funcionamento das empresas fruto da sua experiência e do seu conhecimento. O Vidrago acabou por se juntar porque, num primeiro momento, se colocou a hipótese de se juntar à Sinemys, uma hipótese que não se concretizou.
5) Já sei como se fecha uma empresa!
6) Introduziu-me a um novo negócio, assente em domínios.pt genéricos. Com a liberalização dos domínios.pt a 1 de Maio de 2012, a Sinemys decidiu investir no registo de uma série de domínios. Eu repeti o exercício a nível pessoal e o mesmo fez a Bwizer. A Bwizer, aliás, deve hoje ser a empresa com o mais valioso portfolio de domínios.pt na área da saúde, destacando-se grande parte das especialidades médicas e de medicina dentária. Eu, entretanto, já vendi alguns domínios e, muito provavelmente, já recuperei as perdas que a Sinemys me tinha trazido!
A Sinemys falhou. E eu, terei falhado também?
O que sei é que não me arrependo nada deste projecto. Sou, graças a ele, um empreendedor mais capaz. Às vezes flagelamo-nos excessivamente com os fracassos, esquecendo-nos de ver que um sucesso pode estar a despontar.
Envio um abraço a todos aqueles que já lançaram um projecto que não correu tão bem como previam!